segunda-feira, 28 de março de 2011

Amor não é 8 ou 80

Estaciono a moto e me olha snob um cachorro de rua. Achei-o metido e fui para a aula. No intervalo pediu um pedaço do meu lanche, mas tão digno e humilde que me apaixonei. Agora um assovio e o bichinho vem correndo me sujar de lama antes da aula. Eu sou louca por aquele cachorro, se não o vejo ao chegar fico saindo pro pátio no meio da aula, preocupada, e me parte o coração quando corre atrás da moto no fim da noite.

Será que ele entenderia se eu se lhe dissesse que não posso levá-lo para casa? Que ele não seria feliz trancado em 64m² e sozinho o dia todo? Que o preço de estar comigo é abandonar os gramados, as corujas e os macacos que ele persegue, os outros lanches e carinhos que ganha? Sei que passa frio, fome às vezes, que deve ser duro ser sozinho, sem dono, sem rumo, mas como posso fazê-lo entender que é de sua natureza ser livre e é da minha poder estar com ele apenas alguns minutos por noite? Seria preciso que eu de fato o prendesse para ele entender como é bom para ele não ter dono?


Eu o amo, muito. Desejo para ele todas as alegrias possíveis na vida de um cachorro. Penso durante o dia em encontrá-lo e brincar com ele e acordo sorrindo do devaneio. Ele me faz muito bem, e eu cuido e mimo o magrelo tanto quanto não lhe torne cativo. Mas ainda assim ele corre atrás da moto sempre que vou embora.