terça-feira, 14 de setembro de 2010

Deus me livre de votar em...

Eu nunca fui com a cara da Dilma. Mas votar no Serra me desmotiva, pessoalmente não desejo a privatização dos bancos públicos. E de mais a mais, um como o outro tem lá seus podres.



Meus questionamentos se dirigem à grande lona que se põe sobre os podres da Dilma, do PT e coisas tão óbvias e podres que a gente prefere fechar a tampa do vaso a reconhecer que existem. Como assim a Dilma e o Lula são a mesma coisa? Um semiletrado e uma economista? Alguém faz idéia de como deve ser grande o depósito de lixo para onde mandam os corações dos economistas? Veja que me salvei por pouco. Adoro economia, mas trabalhar com isto seria desumano, economistas reconhecem onde está o problema para manterem-se (raríssimas exceções) bem distantes dele.

Já que entrei no tema, vale esclarecer: Todas - eu disse TODAS - as conquistas econômicas dos governos Lula se devem ao que foi plantado pelo FHC, ou pela conjuntura internacional anormalmente favorável, ou pelo bom senso do setor privado brasileiro, ou pela manutenção de maioria não-petista no alto escalão. Veja, todos fatores não-Lula. Ah, claro, teve uma posição que o Lula tomou que foi fundamental: manteve a política FHC de maior autonomia para o Banco Central. E não precisa ter estudado economia para saber que distribuição de bolsas é um forte desincentivo ao trabalho, além de política comparável a oferecer botinas e dentaduras.

Contra o PT, espero que alguém se lembre de quantos (tantos!) escândalos que levaram à queda de um por um (Palocci, Dirceu, etc) dos potenciais sucessores, a Dilma só foi a última opção, não que estivesse limpa, mas cujos podres estão sob a tal lona maldita. Vejam o vídeo, que ainda que não prove nada por si, é indício de porcaria sob o tapete. Onde há fumaça...

Enfim,

Minha intenção ao escrever era gritar QUE INFERNO! VOU TER QUE VOTAR NULO!

Mas como dificilmente eu escrevo levianamente, fui estudar o terreno, e encontrei uma folhinha verde de esperança. Eu votarei na Marina, que - é sério - tem a ficha mais limpa que o ar da floresta. E não encontrei unzinho que tentasse levantar alguma suspeita, parece até falta de bom senso dizer que ela tem lado ruim. A mulher tem mais cacife do que parece, é a canditada que melhor imagem tem fora do país, e menos enrolada está para escolher suas companhias. A chance pode não ser lá muito grande, mas é a única que temos de mudar não só de presidente, mas de executivo todo, mudar os parâmetros, os valores, ah, sei lá, eu fiquei feliz de encontrar alguém que mereça meu voto!

E sem links desta vez, porque uma coisa é dar minha opinião, outra é fazer campanha.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Tornar-se adulto

Eu tive uma infância meio solitária, e uma adolescência conturbada. Logo comecei a trabalhar e também estudando, saía pouco.
Cheguei num ponto onde tinha meu emprego certo, meu namorado-noivo, minha vida mais ou menos já direcionada, eu olhava pro horizonte e conseguia ver quase nitidamente meu futuro.

Foi quando tive o problema do HTLV. Você não deve saber, o HTLV é um vírus primo do HIV, mas o da Aids ataca o sistema imunológico, e o HTLV ataca o sistema hematológico - de produção de sangue. Como o HIV, pode estar no seu corpo por anos sem nunca te causar nada, e pode de repente te fazer parar de produzir hemácias, e em três meses a anemia/leucemia te mata. Eu doava sangue sempre na Santa Casa, a pedido doei uma vez no Hemocentro. Não quiseram me entregar os exames, e me encaminharam para o HDT (Hospital de Doenças Tropicais de Goiânia, onde meses antes um amigo meu tinha morrido de Aids) para exames mais detalhados. A infectologista me explicou que o exame que fizeram no hemocentro não era preciso o suficiente para detectar o vírus, então ao menor sinal da presença dele meu sangue foi dispensado e eu precisava fazer um exame mais específico, o Western Bolt, o mesmo que detecta o HIV. Mas que leva uns 40 dias pra ficar pronto.

Consegue imaginar quanta coisa passou pela minha cabeça nestes 40 dias? É claro que a gente sabe que vai morrer, e que só pouco provavelmente vai envelhecer, mas dar de cara com esta possibilidade é chocante. Eu pensava se teria o tal do vírus, me via doente e sofrendo, via minha família sofrendo e todos os meus planos e construções se desfazendo como areia no vento.

O resultado saiu e eu não tinha nada, o que o Hemocentro encontrou no meu sangue foi só uma proteína disforme, que depois desapareceu. Fiz o exame mais uma vez e novamente deu negativo. Ainda doo sangue sempre, não tenho nada, e nunca tive.

Mas jamais vou dizer que aqueles 40 dias foram sofridos de graça. Eu pensei tudo que se pode pensar quando se tem 21 anos, e tudo que eu aprendi mudou demais a forma como eu levava a vida. O HTLV é apenas um dos milhares de vírus que podem te atacar, tudo é instável demais, morrer é só uma mudança de estado, e tudo pode mudar de estado a qualquer momento. Aprendi a não me apegar àquilo que não estivesse mesmo em mim.

Terminei o noivado, mudei de cidade e de faculdade, me licenciei do trabalho. Nos dois anos que fiquei na UnB eu fui em tudo que foi festa, fiz Canto Coral, Prática Desportiva, Grupo de Extensão, almocei em RU, dormi num container de entulho, fiz protesto sem roupa, morei em um convento, morei em um buraco, namorei, briguei, fiz sexo dentro do ICC (de dia, no intervalo da aula das 10h), joguei bola e andei de bike mais que criança. Conheci gente de todo tipo. Fiz grandes amigos. Voltei pra Goiânia e fui recuperar outros grandes antigos amigos - ainda estou fazendo isto.

Mas não sou mais nenhuma adolescente e a responsabilidade me chama. Semana passada meu chefe me puxou a orelha de que eu preciso me dedicar um pouco mais, e decidi que vou levar a sério minha vida profissional, minha carreira.

Comecei a chegar mais cedo, estudar os normativos da empresa, fazer os cursos específicos, ler os manuais dos sistemas. Para aprender todos os serviços, fico até mais tarde com colegas que me ensinam. Tudo tem um custo, e precisei substituir algumas atividades, remanejar meu tempo, eu cortei as visitas frequentes ao msn e ao youtube. Por coerência, também não ligo mais a televisão. A faculdade me ocupa bastante, então não tenho mais aquelas horas que usava pra limpar a casa, preparar alguma comidinha, arrumar meu armário. Também deixei de correr no parque, inclusive as caminhadas com meu cachorro estão paradas por enquanto. Há a necessidade de que eu faça horas-extras, então estou aproveitando o momento para mostrar serviço, pra aprender mais. No intervalo do almoço eu fico lá no prédio mesmo, daí almoço com algum colega, conversamos geralmente sobre o trabalho e vou adiantando as coisas. Pra economizar dinheiro e tempo eu cancelei a manicure, eu corto as unhas em casa. E tive que parar de escrever no meu diário, as horas de sono estão me fazendo falta. Sei que parece um sacrifício, mas amadurecer exige estas coisas. E estas trocas todas fazem parte de uma escolha consciente de deixar a vida de moleque que eu tinha e tentar construir algo mais sério. Pequenas mudanças terão efeitos que, com o tempo, vão se acumulando, e sei que estou no caminho de me tornar uma pessoa exemplar: em algum tempo eu terei conseguido coisas significativas, e a longo prazo, algo ainda maior. Fazendo assim, não demoro a constuir algum patrimônio. Até o fim do ano com certeza eu terei uma gastrite ou uma úlcera, e em alguns anos um enfarto ou um derrame. Será meio frustrante morrer cedo, mas pelo menos terei uma bela herança para deixar para... Acho que não terei tempo para filhos, então vai ficar para... Bom, para o governo.


P.S.: Estou indo para o quinto dia sem lavar o cabelo, por que a hora que eu gastaria entre lavar e dar uma ajeitada com o secador, eu usei pra escrever este post.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Ser Mulher (na merda do mundo hodierno)

A difícil arte de ser mulher
Frei Betto
Hours concours em Cannes, um dos filmes de maior sucesso no badalado festival francês foi  “Ágora”, direção de Alejandro Amenabar. A estrela é a inglesa Rachel Weiz, premiada com o Oscar 2006 de melhor atriz coadjuvante em “O jardineiro fiel”, dirigido por Fernando Meirelles.
Em “Ágora” ela interpreta Hipácia, única mulher da Antiguidade a se destacar como cientista. Astrônoma, física, matemática e filósofa, Hipácia nasceu em 370, em Alexandria. Foi a última grande cientista de renome a trabalhar na lendária biblioteca daquela cidade egípcia. Na Academia de Atenas ocupou, aos 30 anos, a cadeira de Plotino. Escreveu tratados sobre Euclides e Ptolomeu, desenvolveu um mapa de corpos celestes e teria inventado novos modelos de astrolábio, planisfério e hidrômetro.
Neoplatônica, Hipácia defendia a liberdade de religião e de pensamento. Acreditava que o Universo era regido por leis matemáticas. Tais ideias suscitaram a ira de fundamentalistas cristãos que, em plena decadência do Império Romano, lutavam por conquistar a hegemonia cultural.
Em 415, instigados por Cirilo, bispo de Alexandria, fanáticos arrastaram Hipácia a uma igreja, esfolaram-na com cacos de cerâmica e conchas e, após assassiná-la, atiraram o corpo a uma fogueira. Sua morte selou, por mil anos, a estagnação da matemática ocidental. Cirilo foi canonizado por Roma.
O filme de Amenabar é pertinente nesse momento em que o fanatismo religioso se revigora mundo afora. Contudo, toca também outro tema mais profundo: a opressão contra a mulher. Hoje, ela se manifesta por recursos tão sofisticados que chegam a convencer as próprias mulheres de que esse é o caminho certo da libertação feminina.
Na sociedade capitalista, onde o lucro impera  acima de todos os valores, o padrão machista de cultura associa erotismo e mercadoria. A isca é a imagem estereotipada da mulher. Sua autoestima é deslocada para o sentir-se desejada; seu corpo é violentamente modelado segundo padrões consumistas de beleza; seus atributos físicos se tornam onipresentes.
Onde há oferta de produtos – TV, internet, outdoor, revista, jornal, folheto, cartaz afixado em  veículos, e o merchandising embutido em telenovelas – o que se vê é uma  profusão de seios, nádegas, lábios, coxas etc. É o açougue virtual. Hipácia é castrada em sua inteligência, em seus talentos e valores subjetivos, e agora dilacerada pelas conveniências do mercado.  É sutilmente esfolada na ânsia de atingir a perfeição.
Segundo a ironia da Ciranda da bailarina, de Edu Lobo e Chico Buarque, “Procurando bem / todo mundo tem pereba / marca de bexiga ou vacina / e tem piriri, tem lombriga, tem ameba / só a bailarina que não tem”.   Se tiver, será execrada pelos padrões machistas por ser gorda, velha, sem atributos físicos que a tornem desejável.
Se abre a boca, deve falar de emoções, nunca de valores; de fantasias, e  não de realidade; da vida privada e não da pública (política). E aceitar ser lisonjeiramente reduzida à irracionalidade analógica: “gata”, “vaca”, “avião”, “melancia” etc.
Para evitar ser execrada, agora Hipácia deve controlar o peso à custa de enormes sacrifícios (quem dera destinasse aos famintos o que deixa de  ingerir...), mudar o vestuário o mais frequentemente possível, submeter-se à cirurgia plástica por mera questão de vaidade (e  pensar que este ramo da medicina foi criado para corrigir anomalias físicas e não para dedicar-se a caprichos estéticos).
Toda mulher sabe: melhor que ser atraente, é ser amada. Mas o amor é um valor anticapitalista. Supõe solidariedade e não competitividade; partilha e não acúmulo; doação e não possessão. E o machismo impregnado nessa cultura voltada ao consumismo teme a alteridade feminina. Melhor fomentar a mulher-objeto (de consumo).
Na guerra dos sexos, historicamente é o homem quem dita o lugar da mulher. Ele tem a posse dos bens (patrimônio); a ela cabe o cuidado da casa (matrimônio). E, é claro, ela é incluída entre os bens... Vide o tradicional costume de, no casamento, incluir o sobrenome do marido ao nome da mulher.
No Brasil colonial, dizia-se que à mulher do senhor de escravos era permitido sair de casa apenas três vezes: para ser batizada, casada e enterrada... Ainda hoje, a Hipácia interessada em matemática e filosofia é, no mínimo, uma ameaça aos homens que não querem compartir, e sim dominar. Eles são repletos de vontades e parcos de inteligência, ainda que cultos.
Se o atrativo é o que se vê, por que o espanto ao saber que a média atual de durabilidade conjugal no Brasil é de sete anos? Como exigir que homens se interessem por mulheres que carecem de atributos físicos ou quando estes são vencidos pela idade?
Pena que ainda não inventaram botox para a alma. E nem cirurgia plástica para a subjetividade!!!!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

O país que se #%$*&, eu quero é ver tv!

Comentei dia desses no trabalho que, com o terceiro governador num mês, sentia que Brasília era uma terra sem governo. A cara de "como assim? O que está acontecendo?" que me fez o estagiário me lembrou uma frase de meu antigo chefe (Estagiário não é gente), então me virei para a colega do lado com aquele olhar maldoso de "olha que desligado esse rapazola" e notei que minha ouvinte perecia de igual ignorância. Não dos fatos, só se fala nesta cidade deste escândalo (calha para abafar outros), mas de tirar alguma conclusão do que se ouve, falta de pensar mesmo.

Antes tive pena das mentes trabalhadoras e dedicadas que pouca atenção dispendem ao mundo fora do horário comercial. Depois notei a profunda indignação quando souberam o resultado do último paredão. Aí o nível de entendimento já era outro: Um falou mal do Dourado e todo mundo veio já se manifestar, e choveram expressões do tipo "eu acho que..." "na minha opinião,..." "mas você concorda que..." e réplicas de conclusões tanto mastigadas que pude mensurar o grande tempo perdido nestas elucubrações.

As pessoas realmente não enxergam o quanto diretamente a poluição política do país afeta suas vidas?

Me coage acreditar no fenômeno do provérbio chinês: acostumar-se ao mau cheiro do mercado de peixes. De tanta sujeira que a gente vê, cresce achando que é assim mesmo, que todo político é corrupto, que a gente sempre será obrigado a produzir muito, para pagar muito imposto, para que haja muito com o que se corromperem. Bate minha revolta: será que é preguiça desse povo de dar um não bem redondo nessa situação? Tenho visto que não é nada disso: a raiva que a imensa maioria tem dos nossos representantes é parente da raiva que têm os favelados dos abastados - Por que Deus quis que eles (e não eu) tomassem esta posição? Assim como aquele que é muito pobre é incapaz de não visualizar um rico como um rival (no que contudo talvez tenha razão), a plebe cidadã vê os eleitos como os sortudos da vez, e há quem complete: se eu estivesse lá também quereria o meu. Tanto se respira no mercado de peixes que o odor impregna nos pulmões e se passa a exalá-lo.

É "lamentabilíssimo o que assistimos neste momento, cada vez mais observamos a desmoralização dos políticos", concordo com Euclides Scalco, pelo superlativo da tristeza e muito mais pela resposta que damos à situação: assistimos, observamos. A desmoralização dos políticos então, é incontestável, de todos os seres políticos, os governantes e os governados. Sim, você e eu. Todo o poder emana do povo, e se o que emana do povo fede, o povo é quem tem que se limpar. Vamos ser francos, nossos representantes bastante bem representam o povo dessa nação de alienados. Um animal político que descaradamente se candidata a governador depois de admitir ter fraudado um painel (eletrônico, lembram?) de votações e ainda é eleito, recebe (no entender dele, e no meu também) aval para fazer o que bem queira com o poder lhe investido. Mais de uma vez ouvi: " - Roubou, mas fez! Brasília está um canteiro de obras!" Eu mereço! Mais: nós merecemos. Nós colocamos estes "entes" lá encima, e nunca mais voltamos lá para ver como andava a coisa.

Ah, não concorda? Você por acaso se lembra em quem votou para deputado e senador em 2006? Se lembrar já está na minoria. Se alguma vez tiver buscado informações sobre o comportamento de tal pessoa, por favor entre em contato, você é uma pessoa raríssima e merece homenagens! Faço questão!

Não acho que alguém haja cometido este milagre. A gente acaba esperando sempre que o outro aja como nós mesmos agiríamos em cada situação, e assim como estamos muito mais preocupados em debater quanta injustiça existe na eliminação da última terça feira, aqueles que administram farta parcela de nosso suor preferem cuidar de seus próprios interesses.

E para não dizer que sou mais uma a falar e falar sem nada fazer, segue abaixo o dever de casa. Páginas para acompanhar e aprender a discernir o joio do trigo. Teremos tempo para fazê-lo se extirparmos de nossas rotinas os orkuts e bigbrothers cotidianos.

Como é a política no Brasil:
http://www.votoconsciente.org.br/index.php?option=com_content&task=blogcategory&id=7&Itemid=49

Quem é e o que faz:
http://www.excelencias.org.br/

Noticiário de política e combate à corrupção
http://www.votebrasil.com/

Senado:
http://www.senado.gov.br/sf/portaltransparencia/

Câmara:
http://www2.camara.gov.br/transparencia

Fianciamento de campanhas de 2006:
http://www.asclaras.org.br/2006/index.php

Não dá para exigir de quem seja atitudes de comprometimento quando nós mesmos não as temos.

Eu sei mas não devia

Marina Colassanti

Eu sei que a gente se acostuma.
Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma a acender cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias de água potável.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Classe média: Quem mandou deixar de ser pobre?!

Em março será votado na Câmara o projeto de lei que extingue a assinatura básica de telefone fixo no Brasil.

Vamos pensar com lógica:

Levar uma linha de telefone até sua casa, instalar os fios nos postes, pagar o aluguel dos postes (que geralmente são da companhia de energia, e não da telefônica), mantê-los funcionando, colocar funcionários de plantão para o caso de emergências e assumir os riscos do negócio. Será que isto tudo não tem um CUSTO? E será que este custo vai pesar no bolso de quem?

A tarifa básica de telefone faz muito sentido - e faz justiça - afinal, ter um telefone em casa é um benefício, ainda que você não faça ligações (pois você pode recebê-las), e tem um custo bastante considerável, principalmente para quem mora em bairros mais afastados. Com certeza mais que absoluta o custo de manutenção não vai desaparecer só porque o presidente assina uma lei. Esse custo vai embutir-se na tarifa, óbvio.

Aí me virá um hipócrita neo-socialista argumentar que "a justiça social fará com que se puna quem tem mais dinheiro e usa mais o telefone". Tem razão em parte: os mais pobres terão telefone em casa, quase de graça. Mas de jeito nenhum quem pagará por isto serão os mais ricos. Quem tem grana mesmo encontra formas mais baratas de se comunicar (VOIP, rádio, nextel e uma infinidade de mais recursos - até a net). Aumentar a tarifa para repor o estrago que fará o fim da assinatura básica vai espantar essa classe, que dará adeus ao fixo sem pestanejar.

Com menos clientes ainda, mais tarifa! E quem paga por tudo isto? Resposta clichê: a classe média, que nem é tão pobre para só receber ligações e usufruir do telefone de graça, e nem é tão rica para fugir do telefone fixo. Inclua-se nesta faixa a enormidade de micro e pequenas empresas do Brasil. Depois a culpa da alta mortalidade destas empresas é da burocracia contábil.

E tem gente fazendo campanha a favor desse populista desse projeto, tem cabimento?

Para (enfim) começar 2010

Que, passadas às correrias das compras, das arrumações, no vai-e-vem das múltiplas obrigações dos fins de cada ano, nós tenhamos um tempo para pensar, no silêncio, fazendo um balanço de mais uma etapa de vida, não apenas do que aconteceu na nossa família, na nossa cidade, no nosso planeta, mas do que vem acontecendo na vida de cada um de nós, nas nossas mentes, nos nossos corações, onde ninguém mais tem acesso, apenas cada um, quando faz o esforço e realmente o quer.

Parece mais fácil não pensar nisto que dizemos ser sério, mas não é. Viver com o automático ligado, sem responsabilidade, parece mais prático, mas também nos leva a um vazio tão grande, no fim das contas, que acaba por nos empurrar ladeira pra baixo até locais muitos escuros, em nós mesmos, de onde fica bem difícil, depois, sair.

Se acreditarmos que somos espíritos num corpo, precisamos ouvir as demandas de nossa alma, ouvir nossa consciência, seguir nossas intuições, ao invés de vivermos a copiar comportamentos da maioria, a satisfazer aos desejos dos outros em volta de nós, esquecendo-nos de nós mesmos...

Este nosso encontro com nosso Ser interno é prioritário, para que possamos nos orientar nesta vida de tantos caminhos e de tantos atalhos e encruzilhadas. Sem este contato constante, como poderemos saber o que fazer ou qual a atitude a tomar em cada situação? Quando resolvemos nos abrir com amigos, no momento de dúvidas, é bom, pois organizamos as idéias, ordenamos as diversas possibilidades que temos, mas só quando conversamos com nós mesmos, sem as máscaras, sem as camuflagens e a necessidade de agradar a quem quer que seja, é que ouvimos finalmente o como precisamos agir, naquele exato momento.
Para que isto aconteça - algo que deveria ser tão simples - precisamos em primeiro lugar nos comprometermos com esta busca de nós mesmos... Na certeza de que em nós está o começo e o fim, a felicidade e a real dor. E sabendo que o Amar a si mesmo a que se referiu Jesus, é na verdade o reconhecimento de que somos uma centelha divina plena de Amor, de Beleza, de Verdade, de Pureza, de tudo que é belo e justo.
Acreditando nisto, mesmo que possamos perceber que ainda estamos apartados deste núcleo luminoso, temos força para recomeçar o nosso trabalho prioritário de autoconhecimento, de respeito por nossa dimensão crística, de busca de aprimoramento de nossas emoções, pensamentos e atitudes.
Neste local tão íntimo se travam as verdadeiras batalhas da humanidade. É onde decidimos o que fazer e o que deixar para depois, como agir. É onde construímos a paz, ou iniciamos as guerras. É onde somos os vencedores, ou os vencidos... E ninguém enxerga nada disto, a não ser cada um de nós e Deus, nossos Guias pessoais e Jesus, nosso Guia planetário.

A busca da felicidade não se trava tanto fora de nós, mas é uma constante procura de conhecimento de nós mesmos. À medida em que nos apaziguamos interiormente com nossas consciências, somos também mais gentis com os outros, com todo aquele que está em nosso caminho.

Que este ano que chegou nos permita esta reflexão mais atenta: o que estou fazendo de minha vida? Para onde estou indo? Quais são as minhas prioridades, meus maiores sonhos? Onde está Deus, segundo a minha crença?

Porque mais um ano chegou, mais um ciclo que não voltará mais está se encerrando e estamos mais próximos de nossa partida deste plano material para outro... Será que sabemos para onde finalmente iremos?
Como podemos ter a certeza de que faremos, um dia, uma viagem solitária e não nos preparamos de forma alguma pra ela? Diz uma música popular que toda partida é sempre uma chegada... Para onde estamos indo? Chegamos neste planeta, sozinhos e vamos deixá-lo, um dia, da mesma forma.

Que 2010 nos possibilite ser mais lúcidos, mais conhecedores de nós mesmos, para que as ilusões da matéria não vivam a nos hipnotizar, tirando-nos a energia da busca prioritária da nossa felicidade!